Confesso que chorei um pouco ou talvez muito
Após anos consumindo animes, é comum que os fãs se tornem mais resistentes às lágrimas. Momentos marcantes como superações, reencontros, mortes ou finais impactantes ainda comovem, mas raramente surpreendem. No entanto, em mais de 20 anos assistindo animes, nunca havia me emocionado com um primeiro episódio, até agora. Anne Shirley, nova adaptação dos livros de L. M. Montgomery, chegou para tocar profundamente os corações mais calejados.
Conhecida entre os assinantes da Netflix como Anne with an E, a obra traz uma história já consagrada, agora adaptada em anime. A narrativa acompanha Anne Shirley, uma órfã sonhadora enviada por engano à casa dos irmãos Matthew e Marilla Cuthbert, na bela Ilha do Príncipe Edward, no Canadá. O casal idoso, que esperava por um garoto para ajudar no campo, inicialmente considera devolvê-la ao orfanato. No entanto, tocada pela história de Anne, Marilla decide acolhê-la. Nesse novo lar, a garotinha de imaginação fértil encontra amizade, amor e esperança.
Mesmo com apenas um episódio disponível até o momento, o anime entrega uma história agridoce e comovente. As analogias e reflexões de Anne encantam o espectador, ao passo que os traumas e rejeições que ela enfrentou ao longo da vida causam dor e indignação. Desde a morte de seus pais ainda bebê, passando por diversas adoções fracassadas, a pequena viveu uma infância repleta de abusos e negligência. A adaptação não suaviza essas experiências, e usa a animação como ferramenta emocional poderosa.
Hiroshi Kawamata mostra uma direção simples, mas extremamente eficaz. A atmosfera das cenas muda de acordo com as emoções de Anne, reforçando a conexão do público com a protagonista. O design de personagens se destaca com expressões faciais suaves e gestos naturais, o que contribui para uma imersão quase cinematográfica, é fácil esquecer que se trata de uma animação. O resultado é um episódio inicial que emociona profundamente, mesmo em seus breves 20 minutos.
Com uma história consolidada e adaptada com sensibilidade, Anne Shirley estreia com a segurança de um enredo cativante e atemporal. Livre da necessidade de explicar o universo ou construir tramas complexas desde o início, a produção foca na qualidade do storyboard e na expressividade da animação. Essa combinação faz do anime uma das grandes apostas da temporada de abril, com potencial para alcançar um público muito além dos fãs tradicionais da cultura otaku.
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